domingo, 3 de agosto de 2008

OFICINAS DE INTEGRAÇÕES PLÁSTICAS (Costurando as artes com a linha da criatividade)

O PODER DO ALEATÓRIO

O poder que existe no aleatório, sugere que deveríamos aprender mais sobre a influência do mesmo em nossas vidas, que, certamente, está ligada a vida do planeta, podendo não parar por aí. Presumindo que nada está separado, o aleatório é apenas uma coerência a qual não enxergamos a ligação com o contexto presente e, quando, o que trazemos de longe –o aleatório- interfere modificando o que pensávamos ser impossível mudar. Percebemos que o resultado é quase sempre um novo e rico conjunto de possibilidades que acabam trazendo soluções inimagináveis, dentro do determinismo que aprisionava nosso olhar.

Em 11 de abril de 2007 reunimos em minha casa os amigos Silvia, Ester, Lia, Luiz, Inês minha esposa ( na época) Rose e eu. E decidimos e concordamos em fazer o primeiro fórum de arte e cultura de Garopaba. Não tínhamos nada além da idéia e disposição para buscar os meios que nos ajudariam a concretizar o que era apenas uma possibilidade.

Para facilitar o relato, saltarei várias etapas até chegar no hoje. Fundamos uma associação fictícia (AGAPAC –Associação Garopabense Promotora de Arte e Cultura); promovemos o Caldo Cultural para arrecadar fundos ( A Rose pela primeira vez experimentou a grandeza de chefiar uma cozinha profissional de um grande restaurante. Surgiu ali o inicio de uma nova história em sua vida...); convidamos todos os artistas e artesãos de Garopaba para terem seus trabalhos evidenciados e conhecidos pela comunidade; convidamos corais de Tubarão e Florianópolis, o grupo de maracatu, formado por alunos da UFSC e, o quinteto –Sopro sinfônico –que além do meu amigo Jarbas (Trompista) havia mais três amigos e um componente que eu não conhecia ( este que eu não conhecia falarei mais adiante); o fórum foi um sucesso. Foi tão significativo que guardamos hoje uma gravação do nosso querido músico, compositor e ministro da cultura do Brasil ( GILBERTO GIL), onde o mesmo ligou para nós e falou comigo sobre o nosso evento e parabenizou nosso trabalho e colocou os recursos, disponíveis, do ministério a nossa disposição para quando realizarmos o próximo fórum. Esta foi uma possibilidade que se concretizou.

Falarei agora daquele componente do quinteto que eu nem conhecia. Aquele desconhecido era o, hoje, meu amigo, Bernardo (excelente flautista) que quase um ano depois lembrou de mim, caçou meu blog, achou meu telefone e conseguiu meu e-mail. Me indicou, fui contatado pelo CIC, enviei meu currículo e pude participar do maior evento e foco de possibilidades artística-educacional dos últimos tempos. Pois foi um feliz evento aleatório. Fugiu do formato sempre pensado, viajou na contramão e juntou pessoas de diversas características, bem diferenciadas: artistas plásticos, professores de arte, uma geógrafa e fotógrafa, um matemático, alguns artesãos, etc. Cabe ressaltar que as idades variaram de 24 a quase 60 anos. E, os professores não dirigiram, coordenaram. Daí, as soluções para integrar as artes fez explodir dentro de cada um o turbilhão de energia que além de transmutar frustrações e curar insônias tornou visível o elo que falta nas escolas públicas e particulares brasileiras, para não falar do mundo. O elo capaz de religar em nossos alunos o interesse pelo aprendizado, pelo fazer e pela poética. Penso que este é um perfil que pode brotar e não brota porque estamos abarrotando nossos alunos de facilidades e subestimando seu potencial do pensar e refletir que é a luz que, nós, professores, deveríamos estar acendendo em cada um deles. Como aluno significa sem luz, devemos supor que ele vai a escola a procura desta luz e, hoje, o que está levando em sua bagagem, é uma capacidade de praticar com facilidade uma vergonhosa omissão. Que aprendem em casa, na escola e nas ruas. E, quando percebemos que a omissão permitiu que Hitler chegasse onde chegou, a escravidão no Brasil durasse séculos e achamos isto coisas do passado, já superadas, deixamos de ver que cidades boas e belas estão sendo foco de violência e barbárie nos dias de hoje. Apenas porque o pobre usuário de drogas não associa o seu drástico e macabro prazer a bala perdida que mata criancinhas, pais de famílias, mães e muitos, muitos jovens. Por omissão, o usuário de drogas alimenta o crime; por omissão os corruptos continuam atuando; a prostituição infantil, aumentando; jovens são enviados as guerras ( para estabelecer a “paz”!) e pasmem: quando um professor explica um assunto e um aluno presta a atenção e outro vem e lhe chama, neste momento, para dizer algo qualquer, aquele que estava prestando atenção, se torna omisso ao dar atenção a este colega. Se a atenção não for dada, o conversador se desencoraja e as aulas terão maior qualidade e, quiçá, começa-se aí uma nova história onde o grito dos corruptos, dos malvados, maus feitores, etc , se silenciem com a surpreendente voz dos bons dizendo, calma e mansamente: Cara, isto, nós não queremos. Não faz bem nem a nós e nem ao planeta ou : Cara isto eu não quero não faz bem nem a mim, nem a minha família, nem aos filhos que ainda vou ter e nem a você. Que tal ser feliz sem drogas, sem dependência, sem dor e sem matanças de culpados e inocentes?

Se aparentemente fugi do assunto, foi proposital. Pois, apenas permiti a presença do aleatório que tende a nos levar para outros horizontes.

Com tudo isto, quero dizer que a arte que tem sido subestimada é o aleatório que precisamos para dar novos e bons rumos às soluções, que são necessárias e urgentes. É um recado para os dirigentes que têm nas mãos o poder de dirigir as cidades, estados, países, etc.Enfim, às vezes nem sabem, mas estão, assim como eu e você, dirigindo este planeta.

Meus agradecimentos aos dirigentes do CIC que tão bem souberam conduzir este encontro e permitir a instalação deste aleatório nas vidas de cada um dos 32 participantes. Espero que no próximo ano ocorra um novo encontro com outros novos 32 integrantes e um encontro de avaliação com os 32 deste primeiro encontro. E assim, espero que o CIC se coloque como difusor de entusiasmo e novas boas possibilidades para que este primeiro passo seja apenas o início de verdadeiras mudanças culturais capazes de trazer harmonia as nossas cidades e crescimento sem culpa e sem maldade. Que a arte, assim como o Bernardo (Lembra, o flautista), não descanse e busque continuidades até onde parece não ser possível encontrar.

Celso Piarelli – Professor de arte.

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